Carta de Denis

 Eu tinha um sonho, um sonho onde eu me tornava o maior detetive do mundo, meu nome seria referência, minha história um marco, eu tinha esse sonho, mas a vida ofuscou o meu sonho, apagou minhas motivações, me fez ser o esquecido, o zero a esquerda, onde não importava o que eu fazia, tudo era para o brilho de outrem, sendo próximo ou não, meus feitos eram descartáveis, e até meus acertos eram erros, mas eu encontrei a solução para os meus problemas! A irônica vida me deu mais uma chance, e como todos dizem, não devemos descartas as oportunidades.
  No dia 13 de dezembro de 1999, eu encontrei a solução, achei em uma pequena loja, de produtos variados, o Livro “M”, claro que fui cético no começo, mas resolvi testar o que estava escrito nesse encantador livro , adivinhem, tudo que ali estava registrado funcionava com precisão, então li nesse livro, a possibilidade de renovar minha vida, de dar um novo começo, quem não quer essa chance! E assim, encontre no meio desse livro, o ritual para invocar Mefisto, o demônio que realizaria os meus desejos sem nenhuma reclamação, só com o de praxe, a exigência de que minha alma fosse ao inferno, eu aceitei, e assim começou minha maratona, onde decapitava e bolava um meio de desviar os olhares, assim, lembrei da casa de minha infância, contratei um ser humano idiota, para que fosse meu laranja, Horácio, e segui com o maior pesadelo de minha vida.
  Eu... Fui possuído, fui cego, minha inveja, minha maldita inveja, fez com que eu... Agora sinto
dificuldades em dizer, pois é horrendo, eu fiz um pacto com o diabo, e não consegui nada, além de dor, ele levou mais que minha alma, ele levou minha irmã, e com ela, levou também meus sonhos, ah, como eu pude,  acreditei que teria tudo, mas com minha irmã morta, não sei nem se tenho sentido culpa, mas com minha irmã morta, para quem vou esfregar na cara toda a humilhação de ser sempre inferior, meus pais morreram em um acidente de avião, logo não tenho que provar nada a eles, meus parentes, nem sabem de minha existência, desde o acidente de meus pais, eles nem nós procurou, a única pessoa, que eu, poderia esfregar na cara minha capacidade, foi levada pela minha própria... Minha própria... Esqueçam, não vale mais a pena, o fracasso é o que sobrou em minhas mãos, e sinceramente, eu não sei mais se sofro pela morte de minha irmã, ou se estou apenas com revolta, de não poder esfregar na cara dela, que eu sou, era, sou, sei lá, capaz de ser um grande detetive!
   Escrevo essa carta no leito que repousa o corpo de minha irmã, estou olhando para ela, e pensando, até em meu próprio plano, me jogou ao fracasso, maldita! Maldita! Eu te odiei tanto, desde o momento em que respirou pela primeira vez, você sempre era a mais bonita, ganhava os melhores presentes, era paparicada, e eu, ficava de canto, ninguém olhava o que eu fazia, nem nossos animais de estimação, todos ficavam ao seu lado, você cresceu, lia comigo contos policiais, adorava mistérios, como eu, e passou a frente até de meu sonho, virou uma detetive exemplar, eu invejava, sim inveja, eu te odiava tanto, e agora, quem vou odiar vadia! Quem vou superar, por que me fez te matar? Por que com toda sua inteligência, me permitiu fazer isso? Ah, eu estou falando com um cadáver, que coisa... A vadia até me endoidou... 
    Eu quero ela de volta, mas não posso acorda-la mais, sacrifício atoa, vida atoa, e pela maldição de Mefisto, eu não posso nem me matar! Nas minhas costas eu carrego a culpa, o rancor, o ódio, a velha inveja, minha irmã venceu de novo, mesmo morta...  Mesmo morta, que grande piada...
   

           - Carta de Denis, encontrada dentro da caixa de correios, da maldita casa, que hoje vive abandonada, e as pessoas dizem escutar sons e ver vultos de dentro daquela casa, sons de pesar, sons que pedem socorro e agonizam.
 “Verdade vovó”, disse uma criança olhando fixamente seu avó, que respondia:
 - Se é verdade eu não sei, mas me prometa, que nunca entrará na casa de Mefisto!
- Prometo – disse a criança com os dedos cruzados – Prometo.